25 Abr 2024

113. POESÍA BRASILEÑA. MARIZE CASTRO

-22 Nov 2021

 

O SAX QUE TOCA DISTANTE QUER PROXIMIDADE

 

virgem e manca guardo sob a pele

certezas de antigas serras

 

digo não a tudo que é prisão

digo sim a tudo que é flor

e risco

 

silente aguardo o sinal

 

rainha, serva, rapsoda do antes

nada quero, tudo toco

 

corça de nenhum lugar

ao primitivo, alço-me

 

 

EL SAXO QUE TOCA DISTANTE QUIERE PROXIMIDAD

virgen y renga guardo bajo la piel

certezas de antiguas sierras

 

digo no a todo lo que es prisión

digo sí a todo lo que es flor

y riesgo

 

silente aguardo la señal

 

reina, sierva, rapsoda del antes

nada quiero, todo toco

 

cierva de ningún lugar

a lo primitivo, me alzo

 

 

A LOUCURA CANTA PARA QUE EU ADORMEÇA

ela é de argila, solitária, não blasfema

 

não reclama

 

adora ameixa, pimentão vermelho

graviola, pitanga

 

disse-me que a liberdade é fúria

e a inocência é alimento puríssimo

 

é o que nos sustenta

 

lá, onde a grande onda derrama-se

inicia-se a primeira

dança

 

 

LA LOCURA CANTA PARA QUE YO ADORMEZCA

ella es de arcilla, solitaria, no blasfemia

 

no reclama

 

adora ciruela, pimentón rojo

guanábana, pitanga

 

me dice que la libertad es furia

y la inocencia es alimento purísimo

 

es lo que nos sustenta

 

allá, donde la gran ola derramase

iniciase la primera

danza

 

 

ESTA PALAVRA A QUEM PERTENCE?

perguntou-me a mais devastada esplanada

 

é minha, respondi

 

molhei a terra, adubei

sepultei sementes, desenhei lápides

 

perdi metade do meu coração

 

este é o aroma do fracasso, da dor, inspire

– asseverou

 

arbórea, peregrina, neblina afora

gritei: esta é a minha verdade

 

inaudita senhora

 

 

¿ESTA PALABRA A QUIÉN PERTENECE?

me preguntó la más devastada explanada

 

es mía, respondí

 

mojé la tierra, adoné

sepulté semillas, diseñé lápidas

 

perdí mitad de mi corazón

 

este es el aroma del fracaso, del dolor, inspire

– aseveró  

 

arbórea, peregrina, neblina afuera

grité: esta es mi verdad

 

inaudita señora

 

 

O PÁSSARO AQUI DENTRO

quer se reinventar

 

retiro as algemas

e ele sorri

 

acostumou-se a ser invisível

acostumou-se a ser só

 

pássaro

 

inebriada eu o adoro

estou indo ao seu encontro

 

levo comigo

uma solidão nova e antiga

que me aproxima

de mim

 

 

EL PÁJARO AQUÍ DENTRO

quiere reinventarse

 

retiro las esposas

y él sonríe

 

se acostumbró a ser invisible

se acostumbró a ser solo

 

pájaro

 

inebriada yo lo adoro

estoy yendo a su encuentro

 

llevo conmigo

una soledad nueva y antigua

que me aproxima

de mí

 

 

EM FRÍGIA NÃO PUDE FICAR

 

eis-me em Naxos

implorando fios

musselinas

anáguas

 

sábia Ariadne, se seu sexo é casa

e sua língua é cárcere

 

sua bondosa maldade haverá

de me salvar?

 

  

EN FRIGIA NO PUDE QUEDARME

 

he me en Naxos

implorando hilos

muselinas

enaguas

 

sabia Ariadne, si su sexo es casa

y su lengua es cárcel

 

¿su bondadosa maldad habrá

de salvarme? 

 

 

DENTRO DESTE PESADO PÁSSARO

tudo arde

 

sobrevoo Casablanca, Marrakesh, Agadir

 

não vim para ficar intacta

busco a nódoa, as fezes, o erro

 

o terno e áspero abraço

contra a muralha mourisca

 

inclino-me melhor para enxergar este destino:

uma mente andrógina escrevendo versos

desamparada pelo esplendor

 

permanece forte tempestade no horizonte

 

mas não desisto:

no meu jardim, Rosa e Pessoa

reinam

 

 

DENTRO DE ESTE PESADO PÁJARO

todo arde

 

sobrevuelo Casablanca, Marrakesh, Agadir

 

no vine para quedarme intacta

busco la mancha, las heces, el error

 

lo tierno es áspero abrazo

contra la muralla morisca

 

me inclino mejor para observar este destino:

una mente andrógina escribiendo versos

desamparada por el esplendor

 

permanece fuerte tempestad en el horizonte

 

pero no desisto:

en mi jardín, Rosa y Pessoa

reinan

 

Todos los poemas pertenecen al libro Habitar teu nome (Una, 2011)

 

 

Marize Lima de Castro (Natal, 1962) é poeta e jornalista, gradou-se em Comunicação Social na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Publicou os livros de poesia “Rito” (UFRN, 1993), “poco, festim, mosaico” (EDUFRN, 1996), “Esperado ouro” (Una, 2005), “Habitar teu nome” (Una, 2011), “A mesma fome” (Una, 2016) e “Jorro” (Uma, 2020). Ganhou o Prêmio de Poesia FJA em 1983 e o Prêmio Othoniel Menezes em 1998. Sobre ela, escreveu a professora Nelly Novaes Coelho, no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: “Poeta em tom maior, expert em Comunicação, jornalista, editora e uma das fortes vozes femininas da poesia brasileira contemporânea, revelou-se em livro, em 1984, com a publicação de Marrons Crepons Marfins que surpreendeu crítica e público pela força e originalidade de sua palavra”. Sobre Marize Castro, afirmou o poeta, professor e crítico literário Haroldo de Campos: “Em seus versos há algo de fundamental, algo entre o belo e o verum, a verdade em beleza, um cuidado especial com a síntese, um encontro com a poesia”.

 

Marize Lima de Castro (Natal, 1962) es poeta y periodista, se graduó en Comunicación Social en la Universidad Federal de Río Grande del Norte. Publicó los libros de poesía “Rito” (UFRN, 1993), “poço. festim. mosaico” (EDUFRN, 1996), “Esperado ouro” (Una, 2005), “Habitar teu nome” (Una, 2011), “A mesma fome” (Una, 2016) y “Jorro” (Una, 2020). Ganó el Premio de Poesía FJA en 1983 y el Premio Othoniel Menezes en 1998. Sobre ella, la profesora Nelly Novaes Coelho escribió, en el Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras: “Poeta de gran tono, experta en Comunicación, periodista, editora y una de las voces femeninas fuertes de la poesía brasileña contemporánea, se reveló en libro, en 1984, con la publicación de Marrons Crepons Marfins que sorprendió a la crítica y al público por la fuerza y originalidad de su palabra”. Sobre Marize Castro, afirmó el poeta, profesor y crítico literario Haroldo Campos: “En sus versos hay algo de fundamental, algo entre lo bello y lo verum, la verdad en belleza, un cuidado especial con la síntesis, un encuentro con la poesía”.

 



Compartir